29 de maio de 2012

“Responsabilidade Social e demissões em massa: Um olhar de Relações Públicas no relacionamento com o público interno” por Fernanda Gomes dos Santos


Aqui exponho um artigo que, a meu ver, me parece interessante para enquadrar uma vez mais a teoria das Relações Públicas e Responsabilidade Social numa conjuntura que todos nós vivemos neste momento: A crise económica e financeira…


INTRODUÇÃO:
“O papel das empresas na sociedade é cada vez discutido atualmente. São exigidas a participação e atuação delas em outros aspectos, além do econômico, e o social é um deles. Nesse permeio, surge o conceito “responsabilidade social das empresas”. Observamos práticas como filantropia, ações e projetos sociais feitas pelas empresas para dirimir as questões sociais. Porém elas não abarcam a totalidade do conceito. Na contemporaneidade, a responsabilidade social empresarial vai além de realizações sociais, ela implica em posturas corporativas.
A responsabilidade social diz respeito à conduta que as organizações têm no relacionamento com os seus públicos e/ou stakeholders e como se comportam diante das demandas e necessidades de todos que são afetados, direta ou indiretamente, pelas empresas. Nesse trabalho, analisamos a conduta das organizações, com um dos públicos, o público interno. Observamos o seu posicionamento com os funcionários em situações de crise como a demissão.
Para entender melhor as questões que permeiam responsabilidade social, público interno e demissão, o trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, são discutidos os conceitos de responsabilidade social. Tivemos como base a definição do Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial que é referência sobre o tema na atualidade. Analisamos pontos como a ética e a postura das empresas e as diferenças conceituais entre responsabilidade social e outros termos relacionados à dimensão social e como as Relações Públicas estão inseridas nesse processo.
O segundo capítulo aborda os aspectos que envolvem a responsabilidade social com o público interno. Os Indicadores Ethos são a ferramenta utilizada para definir esses parâmetros. Questões como participação nos resultados e bonificação, cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho, valorização da diversidade, gestão participativa, comportamento frente a demissões são discutidas no decorrer do capítulo. Consideramos como público interno, além dos funcionários efetivos, estagiários, trainees e terceirizados.
Já no terceiro e último capítulo, verifica-se o comportamento que as empresas têm frente a demissões. Observamos as atitudes das organizações em situações de crise e o que as levam a realizar corte de pessoal, demissão em massa ou enxugamentos. Apontamos as consequências da demissão nas organizações e as alternativas utilizadas pelas empresas para evitá-la. Quando ela se faz necessária, são discutidas formas de se atenuar o impacto da demissão, dentro das premissas da responsabilidade social.
Deste modo, o presente trabalho busca contribuir para uma maior reflexão sobre o a responsabilidade social das empresas com o público interno, principalmente em situações de crise como a demissão, analisando o papel e a participação das Relações Públicas na condução dessas questões.”



TEMAS ABORDADOS:

1. Responsabilidade Social das empresas
  • Campo conceptual de responsabilidade social das empresas
  • Relações públicas e responsabilidade social
  • A Ética nas organizações e a responsabilidade social
  • Diferenças conceituais entre responsabilidade social e outros termos relacionados à dimensão social
2. Responsabilidade Social e Publico Interno
  • Público interno e Indicadores e Normas de Responsabilidade Social Empresarial
  • Política de benefícios, qualidade de vida e responsabilidade social com estagiários, trainees e terceirizados
  • Valorizando o público interno: das políticas de diversidade à gestão participativa
  • Comunicação e transparência com o público interno e as políticas de demissão nas empresas
3. Demissão e Responsabilidade Social
  • Crises e demissão em massa – redução de custos nas empresas?
  • Consequências da demissão nas organizações e alternativas para evitar a demissão
  • Quando a demissão é necessária: formas de atenuar o impacto
  • Demissão e Comunicação Social: um olhar de Relações Públicas

RESUMO DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Neste artigo foi abordado um ponto estratégico crucial na actividade das Relações Públicas: os stakeholders, ou seja, todos os públicos com que uma organização mantém um determinado tipo de relacionamento directa ou indirectamente ou ainda tanto a nível interno, como externo. Pois estes, independentemente nível de relacionamento que é estabelecido, são cada vez mais exigentes na procura da sustentabilidade, confiança e transparência que se interliga a uma atitude ética e socialmente responsavel por parte de qualquer organização.

Considerando a competetividade bem patente no mercado internacional dos tempos que correm, torna-se crucial ter em conta a opinião pública e conseguir controlar e amenizar possíveis insatisfações. Pois caso contrário pode por em causa o sucesso empresarial bem como a continuidade da sua existência. A autora afirma portanto que é neste sentido ou nesta “conjuntura” que se deve valorizar a responsabilidade social corporativa e, indo ao encontro do que foi abordado no post anterior tendo como fonte a perspectiva de Archie B. Carroll (1991), esta passa pela análise da atitude verificada no relacionamento das organizações com os seus variados stakeholders tendo sempre em linha de conta os seus “interesses e demandas” , ou seja, numa óptica de Relações Públicas.
Reportando ao meu primeiro post, neste artigo tambem se realça para o facto de que a responsabilidade social é mais do que filantropia ou projectos sociais, tendo que ser parte integrante do ADN da organização, da sua conduta ética e nos modelos de gestão.

Esta ideia é então defendida e divulgada nas organizações pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, objectivando ajudar as empresas na gestão e avaliação da responsabilidade social através de instrumentos e publicações, como é o exemplo dos Indicadores Ethos.
Dentro dos vários indicadores, o presente estudo debroçou-se nos pressupostos de orientação relativamente ao público interno (pressupostos estes que vão desde as condições de segurança e saúde no trabalho, prémios, respeito à diversidade, entre muitos outros).

Mas indo ao encontro do tema principal deste estudo, uma das notas conclusivas esclarece que quando as organizações enfrentam situações de crise trazendo a necessidade de diminuir drásticamente os custos financeiros, a prática mais comum passa pelo corte de colaboradores ou demissão em massa. Realça-se que esta deve ser a última opção para reduzir custos e que inclusive pode trazudir-se em significativas perdas para a organização.
No entanto, é de ter em conta que caso seja uma solução necessária, há maneiras do fazer para amenizar o seu impacto, ou seja, fazê-lo de forma responsável. (Os Indicadores Ethos são analisados neste artigo também como uma ferramenta que indica a melhor maneira das empresas se comportarem no toca às demissões.)

A demissão é sem duvida uma situação sempre delicada, e a maneira como as empresas a praticam reflecte também a noção que têm da responsabilidade social. É portanto neste sentido que as Relações Públicas surgem, por forma a conduzir as organizaçoes nas melhores práticas de relacionamentos com os variados stakeholders através da comunicação e da sua gestão. Gestão esta que deve dar valor à informação considerada como um “bem público”, configurando às empresas o dever de informar sobre as suas políticas, questões ou acções que podem exercer algum tipo de influência negativa ou positiva nos varios públicos.
Em suma, este dever reporta a uma atitude organizacional pautada pela transparência e dirigida éticamente mesmo em momentos de crise, devendo sempre ser alargada no tempo dando-lhe continuidade. (Esta última questão remete-nos para um outro conceito que abordarei num próximo post - Sustentabilidade)

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Nesta mesma linha de pensamento deixo-vos um outro artigo…:

Por Júlio Afonso Sá de Pinho Neto, Professor Adjunto do Curso de Comunicação Social/Habilitação em Relações Públicas da Universidade Federal da Paraíba, Brasil.

O público interno representa um segmento essencial para o êxito dos programas de Relações Públicas, exigindo transformações na cultura organizacional, com a consequente adopção de novos paradigmas éticos. Trata-se de uma etapa prioritária para a legitimação de todo o trabalho de comunicação em uma organização, fornecendo a credibilidade necessária para obter um bom conceito junto à opinião pública e à sociedade civil organizada.” (in http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-neto-importancia.pdf)